terça-feira, 13 de outubro de 2015

Jota Júnior: "A gestão do futebol brasileiro precisa de grande reformulação"

De uma partida da garotada dente-de-leite, em Americana, interior de São Paulo, para os microfones das cabines dos principais estádios e ginásios do esporte brasileiro. Assim se resume a consagrada e mais que quarentenária trajetória de José Franchischangelis Júnior, o Jota Júnior, à frente de transmissões esportivas. 

Jornalista e narrador dos canais SporTV e PFC (Premiere Futebol Clube), Jota conversou com o Blog Futebolês. Foram pautados o técnico Dunga, sua carreira como locutor - que, inclusive, é trabalhada em um TCC (clique aqui e saiba mais) - e a Seleção Brasileira, pela qual deposita confiança na classificação para a próxima Copa do Mundo, embora defenda a necessidade de uma reformulação da gestão.

Leonardo Henrique Ozório - Se recorda do seu primeiro trabalho como narrador esportivo?
Jota Júnior - Sim. Minha primeira narração foi na minha cidade, Americana, de um jogo de garotada dente-de-leite, pela Ràdio Clube local.

LHO - Quais os caminhos percorridos pelo Jota antes de chegar aos microfones das cabines de estádio?
JJ - Antes de trabalhar no rádio, fui auxiliar de escritório em uma fábrica de tecidos em Americana.

LHO - Há algum jogo especial pelo qual você se orgulha em ter narrado?
JJ - Não tenho nenhum jogo específico. Todos são importantes, pois se trata de um trabalho e merecem a atenção geral.

LHO - Você teve a oportunidade de narrar um jogo que contava com a presença do melhor jogador que já viu?
JJ - Narrei vários jogos do Pelé. Só isso já responde à pergunta. Para mim, o mais completo de todos que vi.

LHO - Fale um pouco sobre o documentário que está sendo produzido a seu respeito.
JJ - Uma equipe da faculdade Casper Líbero de São Paulo está produzindo um material sobre a minha vida. Eles se mostram muito competentes e estou satisfeito em ser alvo do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) deles. Muito bom.

LHO - Como é, geralmente, o processo de preparação de narradores e comentaristas para os jogos? Exige um longo tempo de estudo e aprofundamento?
JJ - Estuda-se rapidamente o confronto e sua importância para que o telespectador receba todas as informações necessárias. Para narrar qualquer modalidade, é preciso, primeiramente, conhecê-la, e depois se informar sobre os times, a situação do campeonato e tudo mais.

LHO - De todas as Copas do Mundo que transmitiu, qual mais lhe marcou?
JJ - A de 1978, na Argentina. Marcou a minha primeira participação em uma Copa do Mundo. Trabalhei nela pela Rádio Gazeta de São Paulo. Uma experiência inesquecível.

LHO - Como é lidar com críticas a respeito de gafes cometidas em transmissões?
Nossos erros em transmissões ou programas são sempre evidenciados, porque muitas pessoas acham que nós não podemos errar. Devemos receber as críticas com normalidade, porém aprender com as falhas cometidas. As observações servem como advertência ao nosso trabalho e à nossa concentração.

LHO - E com a questão da imparcialidade?
JJ - Imparcialidade em coberturas esportivas é, para mim, fundamental. Devemos respeitar a todas as torcidas, sempre com a consciência de que as duas torcidas estão assistindo e merecem respeito. Não se desmerece qualquer agremiação por não ser de um grande centro ou por não ter um currículo vasto de conquistas.



LHO - Qual a sua opinião a respeito da safra brasileira que buscará uma vaga no Mundial da Rússia?
JJ - Temos um elenco razoável - com o detalhe de que não somos os melhores. Certamente, o grupo vai somar os pontos necessários para a vaga. Vai ser difícil exatamente pelo nível limitado do elenco, mas creio que a Seleção Brasileira vai se classificar para a próxima Copa do Mundo. Iremos à Rússia em 2018.

LHO - Acompanhando o futebol do exterior, acredita que estamos passos atrás das outras seleções?
JJ - Precisamos de uma reciclagem de ordem tática e filosófica de jogo. Nossos treinadores necessitam modificar o padrão da seleção. Precisamos, também, aproveitar mais os atletas que atuam em nosso país e valorizar mais os jogadores dos clubes brasileiros. Os europeus evoluíram taticamente e em filosofia de jogo, enquanto aqui paramos no tempo e passamos a acreditar somente no talento de alguns jogadores.

LHO - Você confia na gestão de futebol e no trabalho de Dunga?
JJ - A gestão do futebol brasileiro precisa de grande reformulação. Confederação e federações. Dunga não é o mais bem preparado para ser o treinador da Seleção Brasileira. Currículo pobre e pouca experiência como técnico. Há outros em condições melhores, como o Tite, por exemplo.

LHO - Acha que a CBF digeriu bem os 7 a 1?
JJ - Levar uma sonora goleada em Copas, principalmente jogando em casa, é terrível para qualquer seleção. Não seria diferente para o futebol brasileiro. Quanto à CBF, os dirigentes são tão insensíveis que acho que esqueceram rapidinho a tragédia no Mineirão.

LHO - E quando nos referimos aos clubes do nosso país, acredita que algum ruma para o caminho da renovação do futebol?
JJ - Acho difícil que os clubes brasileiros modifiquem sua filosofia de trabalho e mudem o atual quadro do nosso futebol. As agremiações, de maneira geral, são administradas de forma amadorística e só pensam no imediato, nunca no longo prazo com planejamento e metodologia. Falta humildade e copiar de onde está dando certo, que é no exterior com algumas agremiações.